quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Alexandre de Faria - fala sobre Metodologia e Análise de Uma Peça Musical

Na busca de trazer para este nosso cantinho uma quantidade maior de informações sobre Alexandre, encontrei o site http://www.forumforfree.com/. A postagem é de 2006, mas achei bem interessante, pois alí há uma discussão sobre  análise de uma peça musical. Em meio aos comentários, Alexandre se manifesta e tece considerações sobre metodologia. Ele fala aos participantes e em especial ao participante Luciano. Olha só:

Oi pessoal, olá a todos! (coloquei uma mensagem no quadro de notícias) No Brasil nós estudamos o que chamamos de análise fenomenológica. Na Europa a tendência é usar a análise schenkeriana. Elas são de natureza e abordagem totalmente diferentes, mas no fundo se prestam ao mesmo objetivo: a compreensão (profunda) da obra. Por vezes, schenker não se presta ao serviço e a fenomenológica funciona melhor. E vice versa. Assim como o Cponto, Harmonia, orquestração, etc... a análise é uma ferramenta em suas mãos. Você pode aparafusar um parafuso com a unha, mas uma chave de fenda vai ser bem mais indicado. A análise deve ser usada sempre. O que você deve medir é: até que nível de profundidade eu necessito analisar? Quão profundo eu devo realmente ser na análise de uma obra, considerando meu objetivo prático. Quando um amigo seu está te ensinando uma música popular no violão (digamos do Lulu Santos...), você aprende que a música: 1. possuí uma parte A, 2. daí vai para uma parte B (onde a letra diz blábláblá...) 3. e aí entra o refrão. Voçês vão repetir o refrão 3 vezes antes daquele "corinho" catar "láláláláiê..." 4. Tem um solinho de guitarra que todos já conhecem 5. A música repete e acaba. Você aprendeu tudo isso no seu ensaio e está pronto para tocar com o pessoal. Fim da história. O que você fez foi uma "análise musical". Informal, mas uma análise. Você subdividiu a música em parte distintas e isso foi suficiente para você alcançar seu objetivo. Ok? Esse caminho não te dará muitos frutos no repertório erudito. Ele é muito superficial. Você vai precisar entrar mais fundo na obra para entende-la melhor. Considerando que 99% dos violonistas não analisam as músicas que estudam (antes de estuda-las, principalmente) e que 70% dos violonistas não entendem "chongas" de análise (isso é verdade), eu sugiro um novo conceito: A "analise prática"; Aplicar nosso sistema "Lulu Santos" em bach é melhor do que não o fazê-lo, como muitos o fazem. Partindo dos preceitos acima, na análise prática você se perguntará: "Qual o meu objetivo e o que eu preciso saber a respeito desta peça?" Curiosamente você perceberá que a linha "ele construiu o tema transposto...blábláblá... e o tema ...construido na sequência C-Cm-Am-D7-G-.... foi repetido...etc..." não vai te levar a lugar nenhum e não é relevante, ante conceitos mais importantes. A época e estética da obra ganhará importância. A vida do sujeito e o que ele pensava. E a música em si. Fica aí minha contribuição, se é que o Luciano ainda está por aqui. abs Alexandre.

E continua, acrescentando que

Então Luciano, Interpretar corretamente uma obra musical significa, antes de tudo: 1. localiza-la historicamente e se inteirar da estética interpretativa da época. Piazzola se toca diferente de Bach; 2. Conhecer a anatomia da obra, entende-la e aplicar este conhecimento em sua interpretação. A análise virá como um ferramenta fundamental para o item 2, e se seu objetivo é alcançar uma boa interpretação da dita obra, a  análise dela será vital. Lembra da "analise prática" que comentei. O assunto não é necessáriamente "mais sério do que você imaginava", vai depender de quão profundo você deseja ir em sua análise (veja meu comentárioa anterior). Conforme disse, é preferivel uma análise não tão profunda do que nenhuma análise qualquer. No fundo, nós músicos estamos sempre analisando. Pensem nisso. Muitas vezes estamos maquiando essa análise com outros nomes, mas lembrem-se que o ser humano é naturalmente uma criatura analítica. Por tanto, análise não precisa ser "mais sério do que imaginava". Esse conceito vem de uma tradição acadêmica que faz questão de tornar coisas que poderiam ser agradaveis, em coisas desagradaveis. Vejam o ensino de matemática no colégio. Quase todos detestam, certo? Mas poderia ser ensinada de forma muito legal. Análise, Contra-ponto, são matérias agradáveis e divertidas. abs Alexandre.


Quanto a mim, continuo aguardando apoio, bem como, amigos que possam se juntar a nós.

Abraços,

Marcinha 

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